LIÇÃO 10 - MANSIDÃO: TORNA O CRENTE APTO PARA EVITAR PELEJAS / SUBSÍDIO / REVISTA DA CLASSE ADULTOS
O que é mansidão na linguagem de hoje? O pensamento predominante é que
“mansidão” NÃO se traduz como uma qualidade admirável, pois logo se
pensa numa pessoa com falta de dinamismo ou de ânimo, falta de força e
virilidade. A melhor tradução do original para o português seria
“SUAVIDADE”, mas, ainda não expressaria a ideia central dessa virtude. A
língua portuguesa não traduz do original (grego) a palavra “PRAUTÊS”
com adequada expressão.
O substantivo “PRAUTÊS” é composta do adjetivo “PRAUS” e do verbo
“PRAUEIN”, essas palavras formam uma qualidade muito específica. Carrega
em si a atmosfera e qualidade de uma pessoa que tem a natureza
suavizante, ou seja, palavras que acalmam a pessoa que está em estado de
ira, amargura e ressentimento contra a vida. Essa qualidade é usada
como unguento que pode aliviar a dor de uma ferida. Também se refere à
suavidade no tom da voz daquele que ama, por isso o amor é a base do
fruto do Espírito. Resumindo, é o poder de abrandar, acalmar e
tranquilizar.
Diz respeito à delicadeza na conduta, especialmente por parte das
pessoas que teriam condições de agir de outra maneira. Diz-se também de
um cavaleiro que de modo simpático treina e disciplina um cavalo
irrequieto. Para Platão essa palavra representa a fineza e cortesia que
são a base da sociedade.
“PRAUS”, essa palavra é usada regularmente referindo-se aos animais
mansos, que aprenderam a aceitar a disciplina e o controle. Um cavalo
que aprendeu a obedecer o freio ou um cachorro treinado para atender à
voz de comando. A melhor descrição dessa palavra é o caráter de uma
pessoa em que a FORÇA e a DELICADEZA caminham juntas.
A verdade, a mansidão e a justiça capacitam um soberano a prosperar e
reinar (Salmos 45.5). As palavras quase chegam a significar que é a
cortesia perfeita para com os homens de todas as categorias e posições, é
a base de todos os relacionamentos humanos de forma correta.
Em Platão, a melhor ilustração de “PRAUTÊS” é a do cão de guarda que
revela hostilidade e valentia aos estranhos e amizade gentil para com os
familiares da casa os quais conhece e os ama. O melhor e mais sublime
caráter do homem que é verdadeiramente manso é; “aquele que tem ao mesmo
tempo impetuosidade e delicadeza nos mais altos graus. Assim, na guerra
espiritual devemos ser valentes contra as trevas, mas na comunhão com
os nossos irmãos devemos ser amáveis.
Repetidas vezes no AT o manso é o homem que goza do favor especial de
Deus. A tal homem Deus revelará os seus segredos. Os mistérios são
revelados aos mansos (Eclesiastes 3.19) “Guia os humildes na justiça, e
ensina aos mansos o seu caminho” (Salmos 25.9).
Muito comumente no AT fala-se da exaltação dos mansos. Os mansos
herdarão a terra (Salmos 37.11). Deus levanta-se em juízo para salvar
todos os mansos de coração (Salmos 76.9). O Senhor deleita-se no seu
povo, e exaltará os mansos com salvação (Salmos 149.4).
No AT Moisés é o exemplo supremo de mansidão. “Era o varão Moisés mui
manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra” (Números
12.3). E o Sábio repete esta verdade, dizendo que Deus santificou Moisés
em toda a sua fidelidade e mansidão, e escolheu-o dentre todos os
homens (Eclesiastes 45.4). Portanto, Moisés é o grande exemplo de
mansidão no AT, dessa forma, analisando sua vida saberemos como a
mansidão se revela na vida do homem, também revela que a mansidão é
indispensável na vida de um líder.
Em o NT o apóstolo Paulo pergunta aos coríntios se querem que ele vá com
a vara de castigo ou com amor e espírito de mansidão (1 Coríntios
4.21). O amor Ágape significa a benevolência invencível e a boa vontade
inflexível que nunca se transformará em amargura, mas sempre procurará o
sumo bem do homem, sem importar-se com o que este fizer. Portanto, há
uma conexão entre o amor e a mansidão.
Aplicando essa definição de amor ágape e mansidão, veremos que há
ocasião em que as decisões precisam ser tomadas, não conforme o que diz
as regras e os regulamentos, mas num espírito que transcende a lei. Há
circunstâncias que tornam injusta a aplicação rigorosa da lei, nesse
momento a mansidão faz a lei ser esquecida, passando a lidar com os
outros não segundo a lei, mas pela misericórdia e amor. Ou seja, a
mansidão baseada no amor corrige as falhas da lei e se torna melhor que a
lei. Assim foi com a mulher que apresentaram a Jesus por causa do
adultério, queriam apedrejá-la conforme a lei, mas a mansidão de Cristo
superou a lei.
A mansidão está associada também à modéstia e a humildade. A humildade e
a mansidão são características da vocação cristã (Efésios 4.2) “Com
toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos
outros em amor,”.
Em contraste com a mansidão temos o castigo severo, o apóstolo Paulo
coloca os dois opostos diante dos irmãos de Coríntios, quando pergunta
se desejam que ele vá com a severidade da vara do castigo ou com a
mansidão e amor (1 Coríntios 4.21). Mansidão é o antônimo da disciplina
severa que aplica o castigo exigido pela justiça rigorosa.
A mansidão contrasta-se com o espírito de briga. Nas Epístolas Pastorais
o dever do ministro cristão é conclamar todos os homens a não serem
alterados, mas a darem provas de cortesia para com todos os homens (Tito
3.2) “Que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas modestos,
mostrando toda a mansidão para com todos os homens.” Portanto, mansidão é
o antônimo de um espírito agressivo que vive em guerra com os homens.
Por isso, mansidão é um dos elementos essenciais da vida cristã.
Mansidão é o espírito em que se deve aprender. Os homens devem receber
com mansidão a palavra que pode salvar sua alma (Tiago 1.21). Mansidão é
o espírito em que o homem conhece a sua própria ignorância e com a qual
é suficientemente humilde para saber que não sabe; é o espírito que
pode abrir a mente à verdade de Deus e o coração ao amor dELE.
Mansidão é o espírito em que a disciplina deve ser exercitada, e em que
as falhas dos outros devem ser corrigidas. O conselho de Paulo é de que
se alguém for surpreendido em alguma falta, certamente deve ser
corrigido, mas a correção deve ser dada e aplicada em espírito de
mansidão (Gálatas 6.1) “Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido
nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com
espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também
tentado.” Quando vemos alguém corrigindo outra pessoa com severidade,
sem amor, sem misericórdia, logo percebemos que lhe falta a mansidão que
as vezes ela demonstra apenas quando vai corrigir um parente ou amigo
chegado.
A correção pode ser administrada de maneira a desencorajar e levar o
homem ao desespero; mas se houver mansidão, essa correção pode ser
aplicada de maneira a só erguer o homem, tornando-o resoluto no sentido
de agir melhor e tentado à esperança de que se comportará melhor.
Mansidão é o espírito que faz da correção um estímulo e não um
desencorajamento; um meio para chegar à esperança e não uma causa do
desespero.
Mansidão é o espírito em que se deve enfrentar a oposição. Nas Epístolas
Pastorais o ministro cristão é conclamado a instruir com mansidão os
que se opõe a ele (2 Timóteo 2. 25) “Instruindo com mansidão os que
resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para
conhecerem a verdade,”. Frequentemente encontramo-nos com aqueles que
não concordam conosco e que têm diferenças de opinião, naturalmente
apresentamos um espírito em que procuramos agredi-los verbalmente até
que mudem de opinião.
Mansidão é o espírito que deve permear toda a vida cristã, ela sempre
estará presente na vida e conduta do homem sábio (Tiago 3.13) “Quem
dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras
em mansidão de sabedoria.” O verdadeiro adorno da vida, precioso aos
olhos de Deus e amável aos olhos dos homens é o espírito manso e quieto
(1 Pedro 3.4) “Mas o homem encoberto no coração; no incorruptível traje
de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus.”
Mansidão é mais do que alguma coisa delicada e graciosa. É o segredo da
conquista e do poder, porque os mansos são bem-aventurados e herdarão a
terra (Mateus 5.5). A mansidão faz de um homem rei entre os demais.
Vejamos essa qualidade em Jesus, ELE próprio disse que era manso e
humilde de coração (Mateus 11.29). Percebe-se isso quando Jesus entrou
triunfante em Jerusalém, nesse momento cumpria-se a profecia: “Eis aí te
vem o teu Rei, humilde, montado em jumento” (Zacarias 9.9 e Mateus
21.5). A humildade e mansidão são da própria essência do caráter de
Jesus.
Mansidão é a capacidade de suportar repreensões e ofensas com moderação,
sem partir rapidamente para a vingança e sem ser facilmente provocado à
ira, mas está livre de amargura e contenda, tendo tranquilidade e
estabilidade de espírito. Jesus sofreu com os açoites, cuspiram no
mestre, crucificaram-o numa cruz, mas ele não mostrou vingança nem
rancor, mas disse, PAI perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.
O contrário da mansidão é a ira, por isso, explodir em ira é errado,
mas, ser submisso com espírito de escravidão também é errado. Visto,
portanto, estes dois extremos de caráter errados, fica claro que o meio
termo entre eles é certo, porque não é um gênio precipitado nem lento
demais, não fica irado contra pessoas com quem não deve ficar, nem deixa
de expressar sua ira contra quem deve. O homem manso é o meio termo
entre aquele que é servil e aquele que é severo.
Por isso, vemos Jesus tratar com muito amor os pecadores, mas com
severidade os cambista no templo. Para Aristóteles, cada virtude é o
meio entre dois extremos. Por um lado está o extremo do excesso e por
outro está o extremo da deficiência; porém, entre eles está meio. Para
Aristóteles a mansidão é o meio termo entre a ira excessiva e a falta
excessiva de ira. O homem manso é aquele que se ira “por motivos justos,
contra as pessoas certas, da maneira certa, no momento certo e pelo
prazo certo”. Até par irar-se tem o momento certo. No templo Jesus
irou-se, porém ficou restrito a pessoas certas, momento certo, tempo
certo, não vemos Jesus irando-se contra seus discípulos, nem mesmo
contra aquele que o traía, menos ainda contra aqueles que o foram
prender. Pedro irou-se na hora errada ao cortar a orelha do soldado,
Jesus o corrige com amor e devolveu a orelha ao seu lugar.
Ser manso não é ser uma criatura sem caráter, pois assim como Moisés era
um homem que possuía uma combinação de força e suavidade, assim vemos
em Jesus e assim devemos ser. O significado radical de manso é o
autocontrole, ou seja, é o controle completo da parte impetuosa da nossa
natureza. Quando temos mansidão, tratamos todos os homens com cortesia
perfeita, podemos repreender sem rancor, podemos debater sem
intolerância, podemos enfrentar a verdade sem ressentimento, podemos
irar-nos sem pecar e podemos ser mansos sem ser fracos. Mansidão é a
virtude na qual nos relacionamos com a nossa própria natureza humana e
com o próximo de uma forma perfeita e completa.
Sabendo o que significa essa grande virtude, pergunta-se, “quem poderá
atingir esse autocontrole para si e por si mesmo? As explosões de ira
rompem-se nas correrias do dia-a-dia e são fortes demais para que a
vontade e a razão possam refreá-las. Exatamente por esse motivo que o
Espírito de Deus produz esse fruto na vida do cristão. Portanto,
mansidão é o poder que mediante o Espírito Santo, faz a força poderosa e
explosiva da ira ser aproveitada de forma correta no relacionamento com
o próximo e com Deus. Aleluia!
JESUS CRISTO é apresentado na Bíblia como o LEÃO da tribo de Judá,
manifesta então sua valentia contra os seus inimigos. Mas também é
apresentado como o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo,
manifesta seu amor para com a humanidade. Jesus é o exemplo perfeito de
mansidão. Por isso ELE nos deu o Espírito Santo para nos ensinar a
sermos mansos.
Bons estudos e boa aula!
Pr. Ismael Oliveira.
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